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A Casa Da Jenny

Exterior da casaExterior da casa

Tipologia Construtiva A casa da Jenny pertence a tipologia barraco de madeira e materiais reciclados diversos. Identificamos 17 tipos de materiais nas paredes que variam de madeirite até tabua de guarda-roupa, plástico e tecido.

Nome do responsável pelo domicílio Jenny Casemiro de Lima tem 48 anos e atualmente trabalha como autônoma, ela é motorista, entregando pacotes, um trabalho de plantão. Esse é um trabalho esporádico, mas em algumas noites ela pode receber de 20 a 30 pacotes para fazer a entrega. Durante o dia, Jenny é voluntária na sede da Associação de Moradores da Ocupação Anchieta. Sua casa está localizada em frente à sede da Associação.

Número de ocupantes na casa (e idade) A Jenny, 48, mora com seu filho Lucas de 13 anos de idade.

Atividades típicas dos ocupantes na casa Assistir TV, jogar videogame, ler, cozinhar, limpar a casa, lavar roupa.

Auto-Construção Incremental: Trajetória E Práticas

Em 2013 quando a Ocupação Anchieta apenas começava, Jenny e os seus três filhos foram umas das primeiras famílias a ocupar terra. Naquela época eles moravam de aluguel e Jenny buscava uma alternativa mais econômica para sustentar os filhos. Imigrante de Rondônia, no norte do Brasil, Jenny quis tentar a sorte na maior e mais rica cidade Brasileira. Quando sua mãe veio de visita de Rondônia, ficou chocada com a situação da Jenny, era inverno em São Paulo, e Jenny morava num barraco precário, buscava água de bica e esquentava a água do banho com cabo elétrico. O primeiro barraco era muito pequeno e as conexões informais e provisórias de água ainda não existiam.

  • Ana Paula: Como está a casa de madeira, é a mesma desde que você veio ou você já teve que fazer reformas?
  • Jenny: Então Aninha, eu estou aqui desde 2013. Eu comecei num barraco super pequeno, eu creio que 3 por 3. Super pequeno mesmo que mal dava para colocar a cama e um fogão de duas bocas e a geladeira. E ao passar do tempo né, eu tive que ir ampliando esse barraco porque eu morava de aluguel né, num bairro próximo daqui, dai eu fui ampliando. Ampliei, ficou um barraco grande, só que eu nunca tirei uma madeira dele. Tanto é que quando as madeiras quando vão ficando velhas, a gente consegue portas de guarda-roupa, consegue algum madeirite que o vizinho descartou e a gente vai colocando. Só que já fazem quase dez anos, os meus pontaletes -que é o que faz a casa ficar em pé- é o que segura as telhas, estão podres, entendeu? Então eu não vejo a hora de derrubar esse barraco e começar a fazer já a minha casa de bloco que já está quase pronta graças a Deus.” (Conversa informal, 13 de Abril de 2023)

Jenny agora vive com apenas um de seus três filhos, pois sua filha adulta se mudou e seu outro filho faleceu devido a uma doença. O quarto onde ele dormia foi demolido. Seu filho costumava cobrir as paredes do barraco com páginas de revistinha em quadrinhos. De acordo com Jenny, ele achava as paredes muito feias sem pintura e gostaria de morar em uma casa bonita. Jenny manteve parte da parede. Atualmente, Jenny e Lucas moram em um barraco dividido em uma combinação de quarto/sala de estar, cozinha, banheiro, closet e lavanderia. Há também um depósito na frente, onde Jenny guarda não apenas seus próprios materiais de construção e móveis, mas também objetos grandes para a associação de moradores, que tem espaço limitado de armazenamento.

Como Jenny menciona na fala acima, ela não vê a hora de demolir seu barraco. Ela é uma mutirante, participante do projeto de mutirão e ajuda mútua para construir casas-embrião sob a orientação da Peabiru TCA e com financiamento da SELAVIP. A casa inicial está sendo construída no quintal, onde ficava o quarto da filha de Jenny. A Peabiru e a Associação de Ocupação Anchieta haviam planejado originalmente construir 51 casas-embrião, mas as restrições de recursos reduziram esse número para 40. Jenny optou por vigas para deixar a casa pronta para um segundo piso, enquanto outros mutirantes optaram por telhas de fibrocimento. Veja foto da casa da Jenny em contrução.

Desde 2013, a casa de Jenny não foi apenas ampliada em relação ao barraco inicial de 3x3 metros quadrados, mas foi também posteriormente reduzida. Parte do barraco foi vendida a um vizinho que compartilha uma parede com Jenny. Em suma, nada poderia estar mais próximo do conceito de John Turner de que a moradia é um verbo” [972] do que a trajetória construção e as práticas de morar de Jenny. As práticas de moradia de Jenny e a trajetória de sua casa não podem ser reduzidas a uma edificação finalizada, mas são processos de construção, resistência e adaptação frente à graves adversidades sócio-econômicas e da falta de políticas habitacionais adequadas. Os desenhos arquitetônicos nesta seção representam alguns pontos-chave dessa trajetória de construção.

Materiais

Análise De Calor E Conforto Térmico

Como o trabalho de campo presencial ocorreu no outono, conversando online com Jenny em janeiro (verão em São Paulo) proporcionou uma perspectiva diferente sobre conforto térmico. Ela fez um vídeo de si mesma atendendo o público na sala da sede da associação de moradores, o vídeo indicava como o teto era baixo, de modo que a associação estava insuportavelmente quente. De acordo com Jenny, a sua casa era um pouco mais fresca devido ao teto mais alto. Ela também mencionou que, em novembro, seu filho não pôde ir à escola um dia devido ao calor extremo dentro da sala de aula. Para os moradores da Ocupação Anchieta, é difícil encontrar refúgio contra o calor. O bairro não tem espaços públicos abertos com sombra adequada nem ambientes climatizados próximos, como centros de recreação públicos com sombra e ar condicionado. Jenny: Tô aqui na secretaria menina, [da Associação de Moradores da Ocupação Anchieta]… Daqui a pouquinho tô indo embora Ana, é que aqui é muito baixinho oh [mostra no vídeo gravado o teto baixo da secretaria] e não tem ventilador. A gente não aguenta tanto calor.” (Vídeo enviado por Jenny, no dia 03 de Janeiro de 2024).

Ventilação E Umidade

As entrevistas etnográficas e o trabalho de campo foram realizados em abril de 2023 (outono em São Paulo); portanto, as estratégias da Jenny para obter conforto térmico estavam relacionadas a manter a casa aquecida. Os esforços de Jenny para isolar a casa do frio incluíram a adição de camadas de tecido e plástico para vedar buracos, lacunas e fechamentos nas paredes e no teto. Jenny também usa lã de vidro como material de enchimento para vedar os fechamentos entre as paredes e o telhado. Encontrei essa lã de vidro na lixeira. Coloquei lá no canto superior para bloquear o vento. Vou pegar um pedaço para te mostrar. Se você ascende [com isqueiro], ela não pega fogo.” A combinação sala de estar/quarto de dormir é separada por uma cortina. Enquanto a sala de estar/quarto tem uma porta frontal que fica aberta durante o verão, a cozinha tem uma janela que funciona, essa janela de correr é um corte na parede de madeirite. Jenny abre e fecha a janela da cozinha ao meio-dia, mesmo nos dias mais frios do outono, pois o sol aquece seu barraco enquanto ela prepara o almoço. Referente ao custo da janela ela comenta: -Não, é só recortar [a madeirite], coloca umas madeirinhas de um lado e do outro para encaichar ela tá [pronto]… Ah, essa aqui é a cola que eu te falei oh [Jenny aponta para buraco na telha do teto fechado com material parecido com cola]. A cola de isopor com gasolina. A gente improvisa né. Ana Paula: - O que você aprendeu a fazer na internet? Jenny: É e lá e depois eu coloquei naquele outro outro buraco mas como é muito grande [o buraco na telha], a cola já caiu.” Durante os dias passados dentro da casa da Jenny, são várias as histórias de concertos de buracos no telhado e na parede, a preocupação é sempre bloquear o vento nos dias e noites frias. A chuva foi apenas mencionada como problema quando entra pelo chão. Neste caso as estratégias de adaptação econtram-se no exterior da casa, especialmente muros de desvio da água no pátio e outras tecnicas que não alteram a sensação térmica dentro de casa.

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